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Conheça a história, as opiniões e a personalidade de José de Ribamar Leite Santos, conhecido pelo grande público regueiro de São Luís como Júnior Black, e entendam como ele se tornou um dos grandes nomes do Reggae no Maranhão!
Por: Tiara Sousa
Legenda “… a gente que tem o reggae nas veias não consegue ficar parado, sem fazer reggae, é quase impossível desistir” Júnior Black
Reggae Total – Como começou a sua história com o reggae?
Júnior Black – Minha história começou como regueiro em 1977, frequentando festas na sede da Redenção, que ficava na frente da minha casa, em que tocavam músicas internacionais, nem me lembro se já era Pop Som ou se ainda era Rock Som, mas todo final de semana tinha festa, e tocavam algumas músicas de reggae, por curiosidade fui lá a primeira vez e de lá pra cá minha vida mudou.
Reggae Total – Como se tornou DJ?
Júnior Black – Foi na década de 80, eu trabalhava numa oficina como Rádio Técnico, um dos meninos de lá era discotecário e tocava na sede do Paraíso, que hoje chamam de União dos moradores, naquela época não existia DJ, e eu já admirava. Uns dois anos depois chegou o Tape Deck em São Luís, Radiola era chamada de Bicanal, não tinha Mixador, e aí eu fiquei mais regueiro ainda. Em 1986 fui trabalhar na CEMAR e fiz um curso em Minas gerais, onde comprei alguns equipamentos e montei um sonzinho. Um porteiro da CEMAR que tinha um time tradicional no bairro do Itaqui, de nome Botafogo, pediu que eu tocasse na festa de aniversário pra ele, eu já fazia manutenção de aparelhagem pra dois radioleiros, então aproveitei e pedi a eles caixas de som e amplificador emprestado, e fui tocar lá, criei o nome Black Power pra esse sonzinho e essa festa foi o maior sucesso.
Reggae Total – Aproveitando que citou a Black Power, sabemos que emplacou grandes radiolas nos anos 80 e 90, fale sobre como essa se tornou um marco na época:
Júnior Black – Quando toquei nessa festa do Botafogo, um cara conhecido como Carangueijo, dono de um time que eu não recordo o nome me convidou para tocar no Clube Raio de Sol no São Bernardo, eu falei á ele que não tinha condições, pois as caixas eram emprestadas, mas ele insistiu até que conseguiu me convencer, e inicialmente ainda com caixas emprestadas passei a tocar nesse clube aos sábados e domingos, criei a vinheta Black Power que fez sucesso com a galera. A noticia se espalhou e muita gente passou a frequentar o clube, então apareceram olheiros de outros clubes e me contrataram para o Tok de Amor, na Ponta da Areia, onde eu fiz mais sucesso ainda. Black Power foi uma radiola que influenciou gerações e ficou no meu comando de 87 até 93, quando recebi uma proposta e a vendi.
Reggae Total – Outra radiola de muito sucesso que você emplacou foi a Rebel Lion, fale um pouco sobre ela:
Júnior Black – Quando eu vendi a Black Power eu estava começando a me cansar dessa história de festa, mas a gente que tem o reggae nas veias não consegue ficar parado, sem fazer reggae, é quase impossível desistir, então acabei comprando outra radiola, depois consegui reunir uma outra grana e montei Rebel Lion, que foi outro grande sucesso aqui em São Luís, fiquei com ela de 95 até 2001. Antes o reggae era um hobbie, uma brincadeira e tal, mas no final da década de 90 para o começo do novo milênio, já tinha virado negócio, pra você se manter no mercado tinha que estar com uma estrutura muito complexa, tinha que ter programa de rádio, caminhão, gerador, tinha que praticamente ter uma empresa montada. Eu percebi que isso não dava pra mim, eu não estava com essa estrutura montada e aproveitando outra grande proposta, acabei vendendo a Rebel Lion.
Reggae Total – Quando você se tornou Júnior Black?
Júnior Black – Foi na época da Black Power, e eu fui tocar no Tok de Amor, já tinha essa história de colocar apelidos nas pessoas, e eu já era chamado de Júnior, e Black ficou por causa da Radiola.
Reggae Total – Nas décadas de 80, 90, alguns DJs e donos de radiola costumavam viajar para o exterior em busca de discos e novas músicas para lançar em São Luís, muitas dessas músicas foram lançadas por você e emplacaram, conte-nos sobre essas viagens:
Júnior Black – Na época da Rebel Lion, foi a que mais eu fiz viagens, a primeira em 92 (ainda com a Black Power) e de 93 pra frente eu fiz vinte viagens pra Jamaica e quatro pra Europa, comprando vinis pra abastecer o Movimento Reggae, não falo nem da Radiola, porque eu vendi música pra todas elas. Antes da minha primeira viagem tinham viajado pra Jamaica o Dread Sandro e o Natty Naifson, que me levou pela primeira vez, depois eu fui sozinho, consegui fazer vários contatos, outros endereços, consegui muita coisa, muito disco, abasteci as radiolas, emplaquei muita música de sucesso aqui em São Luís.
Reggae Total – Nos anos em que você trabalha com reggae, que mudanças percebe no cenário de reggae na nossa capital?
Júnior Black – Nesses anos todos o reggae mudou muito. Começou tocando nos guetos, nas festas dos guetos, em seguida saiu da periferia, atingiu praticamente todas as classes sociais.
Reggae Total – Isso é bom? Ter atingindo todas as classes sociais?
Júnior Black – É bom. A gente conseguiu mostrar toda essa história da cultura jamaicana pra muitas pessoas que discriminavam esse movimento.
Reggae Total – E você acha que a elite que frequenta as casas de reggae daqui de São Luís tem a dimensão de que o reggae, mais que um estilo de música, foi uma maneira que os negros encontraram de mostrar a sua insatisfação com a realidade vivida por eles e de manifestar a sua revolta com os preconceitos sofridos, mostrando que as raízes negras também eram valiosas?
Júnior Black – Eu acredito que sim, as pessoas de classes sociais elevadas são pessoas até certo ponto muito inteligentes, entendem a tradução da música, eu costumo falar que a maior parte das pessoas de classes sociais mais baixas, que curtem o reggae gostam do ritmo, geralmente não entendem o que a musica tá falando, elas se levam pelo embalo, pela melodia, já as pessoas de classes sociais mais elevadas vem contribuindo muito pra que quebremos esse preconceito, essa discriminação.
Reggae Total – Considerando toda a sua trajetória e tendo em mente que você acompanhou toda essa mudança e a conquista de novos públicos do reggae, analise classificando o lado A como o reggae que alcança o público menos favorecido financeiramente e o lado B como o reggae que alcança o público mais favorecido financeiramente e diga o que você acha que contribuiu para que nos últimos anos a imagem marginalizada e preconceituosa que as próprias pessoas da elite tinham do reggae se desfizesse fazendo com que esse estilo musical conquistasse esse público?
Júnior Black – Na realidade o reggae sempre vai ser reggae, tanto para os menos favorecidos quanto para os mais favorecidos, mas para o lado A, creio que o reggae faz parte da vida dessas pessoas, no meu caso o reggae faz parte do meu dia a dia, por que eu vivo unicamente de reggae, se eu comprar uma caixa de fósforos é dinheiro do reggae. Essas pessoas do lado A são regueiros mesmos, que passam a semana inteira trabalhando como jornaleiros, guardadores de carros, vendedores de picolé, de bombons, pra no fim de semana poder curtir essa música que tanto gostam, já o lado B, o reggae elitizado, na minha opinião, eles gostam de reggae, mas não são regueiros.
Reggae Total – E a elite é um publico fiel apesar disso?
Júnior Black – Não. Não são fieis porque se tiver dois grandes eventos, um de sertanejo num certo ponto da cidade e do outro lado um forró de renome no Brasil, eles irão se dividir e o ponto que era frequentado pelo povo da elite vai sentir falta de diversas pessoas, já do outro lado quem é regueiro, regueiro, vai pro reggae.
Reggae Total – Algumas pessoas dizem que há muitos desentendimentos e discórdias no cenário do reggae, outras rebatem dizendo que não, que está tudo bem, que isso é só uma ilusão. Se sim, se isso realmente acontece, qual será a causa? Serão DJs e músicos vaidosos? Proprietários de radiolas, casas, clubes e bares de reggae gananciosos?
Júnior Black – Sim, acontece. Acho que é ganancia pelo dinheiro, dinheiro mexe muito com a cabeça das pessoas, e às vezes se você trabalha corretamente e o negócio tende a prosperar, há pessoas que são invejosas, o certo é que essa discórdia, essa desunião no movimento reggae sempre existiu, desde os velhos tempos da história. Se alguém faz uma radiola grande, outro quer fazer melhor, se num lugar tem um DJ bom, o outro proprietário coloca um dinheiro por fora na conta dele pra sair. Mas ultimamente esse tipo de coisa não tem acontecido muito do lado roots, só do lado das Radiolas, das grandes Radiolas que envolvem o movimento das musicas da atualidade, todos os dias tem bate boca, mas não são propriamente grandes confusões.
Reggae Total – Como as pessoas dizem que todo profissional envolvido com reggae, também é um pouco critico, já que a própria musica reggae não deixa de ser uma critica social, exponha a sua visão critica dessa cena de reggae em São Luís. Ela, da forma como vem acontecendo esta errada? E o que é dispensável?
Júnior Black – Na realidade não é uma critica, é um comentário que faço… Graças a Deus o Roots voltou a ser tocado, hoje na minha opinião o Reggae Roots é a sustentação desse movimento aqui São Luís. O reggae das grandes radiolas há cinco anos atrás estava no auge da história, mas nos últimos tempos deu uma caída, antes eram cinquenta clubes pra seis bares, hoje a história inverteu, se somarmos os públicos desse bares, cada um com 100, 200, 300 pessoas, é o que as antes as Radiolas conseguiam levar para os clubes que tínhamos aqui.
Reggae Total – Além de DJ, você é proprietário do famoso bar Kingston 777, e retrocedendo um pouco a questão que falamos dos públicos e tal, o Kingston faz reggae pra quem? Para elite? Para as pessoas mais simples? Para todos? Se é para todos, de todas as classes, como você consegue juntar essas pessoas num mesmo lugar, visto que muitos proprietários de bares, casas e clubes de reggae tem essa dificuldade?
Júnior Black – O Kingston acima de tudo é um local pra quem curte, gosta e simpatiza com reggae. Em toda essa minha trajetória de participação no Movimento Reggae, todos esses anos, eu consegui ter um certo carisma, conquistar esses regueiros, esses meus amigos, e é a isso que atribuo o sucesso do Kingston nesses onze anos, que sim, é um local pra todo mundo.
Reggae Total – Visto que você já tem um publico fiel, uma história construída, que todos os que frequentam reggae conhecem Júnior Black, independente se é do gueto ou da elite, o que considera relevante para os DJs que estão surgindo destacaram-se nesse cenário?
Júnior Black – Acima de tudo humildade, isso é algo que tem que prevalecer. Dar atenção para o publico que nos prestigia e vai aos eventos em que tocamos. E que os mesmos procurem escutar, eu sempre gosto de dar conselhos a quem quer escutar meus conselhos, então é ficar de ouvidos abertos pra quem tem mais experiência, a gente tem muito pra ensinar, muita gente hoje não sabe, mas naquela minha época era muito difícil a gente conseguir musica, hoje tá muito fácil, através de redes sociais, e compartilhamentos de musicas, sites, todo mundo hoje tem reggae então todo mundo pode ser DJ, um professor da UFMA me disse um dia ao me ver tocar uma frase simples da qual eu nunca esqueci, ele disse que existem DJs e existe DJ.
Reggae Total – Fale sobre os seus novos projetos. O que você gostaria de realizar, que ainda não fez?
Júnior Black – Na realidade eu gostaria de realizar um grande show, coisa diferente de tudo o que já aconteceu aqui em São Luís, não sei se no final da minha carreira vou ter essa oportunidade, mas já penso em largar essa vida, pois está muito cansativa, a idade vai chegando, a gente perde noites de sono… Penso que na Jamaica, os caras que trabalhavam com reggae, quando decidiram abandonar, ou trabalharam com restaurante ou com venda de produtos alimentícios, porque as pessoas tem que comer, e isso gera renda. Estou pensando que esse seja o meu futuro.
Júnior Black – E será que você irá conseguir ficar longe do reggae?
Júnior Black – (Risos) Pelo menos as festas eu terei que ir né… (Pensativo) Se eu realmente conseguir sair.
Reggae Total – Agora diga: O que o Júnior Black tem de especial que as pessoas devam ir as festas em que ele vai tocar?
Júnior Black – Carisma, amizade… Eu sou um cara de um milhão de amigos, além de uma boa sequencia musical.
Reggae Total – E o que é uma sequencia boa, e o que é som ruim no meio do reggae?
Júnior Black – Sequencia boa é como um jogo de dominó, é quando você consegue encaixar as pedras, terno com terno, quadra com quadra, quina com quina. Se você conseguir manter o publico dançando, sua sequencia esta boa. Quanto a música ruim, não existe. Há músicas que fizeram muito sucesso aqui em São Luís e que no resto do mundo não fez, particularmente aqui a gente gosta de musica que a gente possa dançar.
Reggae Total – O que destaca o reggae em relação aos outros estilos de musica?
Júnior Blackk – Eu acredito que cada um tenha um gosto musical diferenciado, eu só escuto reggae, gosto de Música Popular Brasileira, mas no meu dia a dia só escuto reggae.
Reggae Total – Pra encerrar com chave de ouro, deixe uma mensagem a todos os amigos do reggae total.
Júnior Black – Não sei se você sabe, mas eu fui a primeira pessoa a acreditar nesse site, a colocar mídia nele. Então aos amigos do Reggae Total, que acreditam nessa mídia forte que o reggae tem, procurem divulgar, apoiar, comparecer nos grandes eventos, como é o caso desse que irá acontecer nesse Domingo, dia 9, a Festa de lançamento do novo site.