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Radialista, apresentador de TV, DJ, estudante de Publicidade e Propaganda, foi candidato a vereador na eleição passada e é assumidamente um apreciador da boa música, essas são somente algumas das muitas facetas de Jorge Black, que nos conta sem mais delongas a sua história e as suas opiniões, nos fala sobre comunicação e sobre o cenário de Reggae em São Luís, sobre os seus projetos e suas expectativas, e como bom comunicador que é, se faz entender!
Por Tiara Sousa
(Colaboração da graduanda em Rádio TV;
Verissa Einstein)
…Se somos a Jamaica brasileira, é porque a gente paga, seria bom que todos esses horários de Reggae nas rádios fossem liberados, mas a realidade é que temos que matar um leão por dia.
Jorge Black
Reggae Total – Conte como conheceu o Reggae:
Jorge Black – Eu morava na rua João Ribeiro, no Lira, quando comecei a ter gosto pela música em geral. Sempre gostei da boa música, hoje contabilizo por volta de 3.500 vinis e 2.500 cds, em que pode-se encontrar de tudo, se me pedir Bethania, Gal Costa, Fagner, Djavan, eu terei, pois se a música é boa dá pra gente ouvir. Na verdade todo mundo sabe que essa história do Reggae começou com as músicas que vinham de Londres, de outras partes e que foram sendo inseridas no movimento, e me despertou o interesse quando ouvi “Foolish Pride”, um álbum muito bom do Jimmy Cliff, de 1974, acho que ás vezes o Reggae é até meio ingrato com ele, pois Bob Marley é o rei do Reggae, mas foi através do Jimmy que ele ascendeu, então desde a primeira vez que ouvi me chamou atenção, é por ai que eu começo a perceber que aquela música não é mais somente mais uma internacional no estilo das outras que estavam aparecendo na época, e quando nós tomamos conhecimento que o estilo de música se chamava Reggae dai passamos a ter curiosidade por Jimmy, por Bob, por Gregory Isaacs, que foram os que primeiro se destacaram.
Reggae Total – Soube que você tinha apenas doze anos quando comprou o primeiro disco, conta um pouco dessa história:
Jorge Black – Lembro de ouvi “So much trouble in the world” (Existem tantos problemas no mundo), que é uma música indiscutível do Bob Marley, e quando consegui traduzir vi que era uma música diferente das que estavam aparecendo, que eram só pra dançar, e essa trazia uma mensagem diferente, o que despertou em mim uma curiosidade por Bob Marley, aí fui associando a outros cantores e aos acontecimentos, justamente em 1976 a Jamaica estava passando por um processo político, o que fez com que os cantores se propusessem a cantar sobre as prioridades que o povo negro não tinha, o Max Romeo gravou “War ina Babilon (Guerra na Babilônia), que é um disco que todo mundo tem que ter, que é baseado em trechos políticos e traz muita da realidade daquela época. Sempre que ouço uma música quero saber quem canta, quem produziu, qual foi o estúdio, qual o ano, quem está na bateria, porque acho que a melodia faz parte de algo que te atrai. Falo sempre no programa, quando não tiver nada pra fazer, pega um DVD de Bob Marley, se não souber inglês coloca legenda, pois o cara é bom, ás vezes uma frase que tem ali abre um leque pra coisas tão legais, e aí de repente você vê o ano e é de 1976 e trás pra realidade de hoje e vê que era pra que as pessoas soubessem o que estava acontecendo, a gente viveu isso, alguns artistas brasileiros foram exilados porque queriam dizer pra gente em música o que não poderíamos saber pelo que ouvíamos nos palanques.
Reggae Total – Atualmente você é DJ residente no Bar Túnel do Tempo, fale sobre essa experiencia e sobre outros lugares em que já tocou:
Jorge Black – Tenho uma parceria com o proprietário do Túnel do Tempo em que fico a vontade pra tocar nas sextas, nos sábados e nos domingos ou nos três dias. Quanto aos lugares que já toquei, além de São Luís em diversos munícipios do Maranhão, tive o prazer de tocar em Brasília, fui a Belém pra tocar um final de semana e passei um mês tocando geralmente de quinta a domingo. Também tive a oportunidade de tocar na Virada Cultural em São Paulo, éramos onze, entre DJs e equipes, e o meu momento foi bom, foi massa, já que tenho uma vinheta que gravei com o Chagas do Boi da Maioba e achei oportuno usá-la lá, e usei, e parece que de todas as músicas que toquei nenhuma valeu como aquela vinheta que é mais ou menos assim “Maioba tu és o meu torrão, galera aqui quem fala é o Chagas do Boi da Maioba e eu tô ligado na sequencia do DJ Jorge Black”, como lá tem muita gente daqui e com saudade, pra muitos deles aquela vinheta de dez, quinze segundos valeu a sequencia toda, tem algumas coisas que quando você toca são inesquecíveis, essa foi uma delas.
Reggae Total – E quanto ao Ceará Music, evento de grande porte em que você já tocou?
Jorge Black – O Ceará Music foi uma experiencia que marca a minha vida, pois lá estava eu no meio de Gilberto Gil, Pitty, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Tribo de Jah, Alma Negra e Planta e Raiz, que inclusive nunca tinham escutado a sua música em uma radiola, e como sempre gostei de “Com certeza” e a tinha, toquei, depois eles me chamaram e falaram que eu estava realizando um sonho deles, e então me presentearam com todos os CDs e todos os DVDs que já haviam gravado, foi um momento que me marcou. Outra coisa que marcou é que São Luís estava numa transição da música de baixo, bateria e guitarra pra uma mais programada eletronicamente, e conversando com o amigo Fauzi Beydoun percebi que ele tinha um pouco de mágoa por achar que São Luís tinha execrado reggaes dos anos 70 e 80, o que consegui dismistificar, disse que não, que eu continuava tocando aquelas músicas, tanto que quando ele ouviu meu repertório ficou fascinado. Outro aspecto que me chamou atenção é que o palco Reggae era intermediário do principal, então no intervalo das bandas as pessoas iam em direção a esse palco, onde eu estava tocando na oportunidade com a radiola fm natty nayfson em quatro apresentações,as pessoas gostaram tanto que os caras da produção me disseram “cara, se você não parar essa radiola não vai ninguém ver o cantor que está lá” (risos).
Reggae Total – Você tem um programa na Rádio Cidade, o Reggae Night. Além de apresentado por você, é também produzido? Toda a concepção é sua?
Jorge Black – Sim. Produção, toda a concepção, vinhetas e propaganda.
Reggae Total – No seu programa há um direcionamento que por vezes é para o Reggae Roots e por vezes para o Reggae Eletrônico. Você sabe, em outros lugares possivelmente, mas que certamente em São Luís a maioria das pessoas assumem a preferencia por uma vertente do reggae, se gostam do Roots então não gostam do eletronico, se gostam do eletronico então não gostam do Roots. Considerando tal realidade, isso não seria prejudicial ao seu programa? Trata-se de falta de direcionamento ou é uma maneira de atingir todos os públicos? E se é, não é uma maneira arriscada?
Jorge Black – Veja bem, no inicio da entrevista falei de boa música, a gente não pode negar que se tratando de Reggae, quem domina em São Luís hoje são as radiolas, elas detem a maior parte da mídia, dos clubes, dos programas, e se elas tem um publico, eu não posso dizer aquele publico que aquela música não é boa. Mesmo o meu programa sendo 70% de músicas dos anos 70 e 80 eu consigo estar no contexto de músicas atuais, as pessoas me dão vários melôs da atualidade pra lançar, se ganho quinze músicas eu vou ouvir as quinze, e vai ter uma que vai me chamar atenção. Recentemente ganhei “And i love her”, uma música gravada e produzida em São Luís, que é uma composição de John Lennon e Paul McCartney, nos vocais do Jamaicano Sly Fox e que eu tenho o maior prazer de tocar no meu programa, ficou muito boa a interpretação, se estou tocando tal composição, chamei ou não chamei a atenção do meu público de que no meio das músicas há uma música boa. Um dia vai ter que ser discutido como é que estão as mídias nas rádios e a comunicação nas radiolas e nas festas.
Reggae Total – Há pouco você citou o povo negro, suponho então que você não veja o Reggae apenas como diversão, mas também e principalmente como uma maneira política de falar do negro, das diferenças sociais. Seria equivocado concluir que misturar essas duas vertentes, a Roots e a Eletronica no mesmo programa seria uma forma não apenas de buscar diversos publicos e ter uma linguagem universal, mas também de promover um senso de igualdade.
Jorge Black – Pronto, hoje eu consigo fazer isso, chamar a atenção de alguém pra algo que é novo, nós não podemos negar que o mundo tá globalizado, as informações estão aí, sempre digo no programa que fui muito criticado por pessoas que são meus amigos hoje, porque em 1999 eu tive a oportunidade de apresentar o primeiro programa na rádio cidade (Reggae Dance, com Carlos Nina) e ele me deu liberdade pra fazer o que quisesse, disse que eu tinha uma hora de rádio, que deveria fazer o que achasse melhor dessa hora. O programa é comercial e naquela época já comecei a falar de nomes que estão na parte rítmica da música, eu quis curiosidade, sabe Lloyd Parks, é um dos maiores baixistas da música reggae, se você pegar alguns LPs e for na ficha técnica, vai encontrar o nome dele como baixo. Eu tinha essa curiosidade, porque a gente sabe que quando insere algo que quer oferecer a alguém, é porque o que está inserindo, vai melhorar o que está ofertando às pessoas. E as pessoas criticavam, falavam “ah, não irei ouvir Jorge Black, ele quer dizer até que horas Bob Marley vai ao banheiro”, e hoje eu vejo as pessoas e pergunto: E aí, eu estava errado em 1999? Não, as informações estão aí, hoje quando olho um disco, eu sei que música tem. No programa Reggae Night eu nunca sei quem tá me ouvindo, não é só o povo que vai ao Túnel, tem alguém que vai pra radiola e tá ouvindo, o cara que me deu uma música, tá ouvindo, ha pessoas que dizem: não, eu não vou ouvir Black porque ele só toca música velha, mas sempre há pessoas pra dizer que não, que de vez em quando eu apareço com uns lançamentos aí que viram sucesso, e com isso, eu já trago alguém pra ouvir o programa que não é só o povo do Túnel que curte 70 e 80.
Reggae Total – Mas aí você traz algumas pessoas e perde outras, é inevitável. Será que não há pessoas que dizem “ah, eu gosto é de Roots e não vou ouvir essa música eletrônica” e que irão se recusar e dizer que não ouvirão um programa em que tocará os dois estilos?
Jorge Black – Não, acho que não. Alguns locutores acham que redes sociais dão o significado total de audiência, já eu viajo com meu ouvinte, e vou pensar no que ele gosta. É estratégico, não vou mentir, é comercial, é montado, até o tempo que eu tô no merchandising é cronometrado, tô sempre acompanhando o tempo, procuro nunca me estender, colar merchandising, falar muito, tem toda uma matemática.
Reggae Total – Creio que essa matemática foi construída à partir da experiência com as rádios pelas quais você já passou e de programas anteriores. Fale sobre eles, desde a Rádio “Verdes Mares” de São José de Ribamar, com o programa “Wanted Reggae”, até as rádios “Ilha do Amor”, na Cohab, “Cultura”, no Maiobão e a “Jovem FM” no Cohatrac.
Jorge Black – A Jovem FM foi um momento lindo na minha vida porque eu era a cara reggae da rádio (e estilo reggae da rádio ),esse aspecto chamou a atenção de vários produtores porque tínhamos uma plástica, era muito bom, porque consegui chamar a atenção das pessoas, sabia da importância do que tava fazendo, mas que era uma passagem, que iria marcar, mas não iria permanecer, vinha com uma cara jovem, comercial, informativa. Passaram por lá comigo grandes comunicadores, alí abriu um link muito grande na minha cabeça, eu vi que se poderia fazer rádio com informação e comercial, como eu faço hoje.
Reggae Total – Vocêestá no 6º período do curso de Comunicação – Publicidade e Propaganda, no Uniceuma. O curso ajuda no estudo de público e no merchandising do seu programa?
Jorge Black – Ajuda, porque não basta ter uma hora de rádio, mas se questinonar o que vai fazer, pra quem vai falar e como irá falar, então procurei me atualizar, além da universidade, fiz um curso de Locução e Apresentação com o Robson Júnior por volta de 99. Sempre gostei da mídia na mídia, encontro as pessoas e digo, “ei, escuta lá o meu programa tal hora que vou te mandar um alô, tocar aquele reggae que sei que você gosta”, assim mantenho o meu público, acho que o que predomina é e sempre vai ser a humildade, é uma receita pra se manter no Reggae, e eu oro muito, estou sempre agradecendo a Deus e pedindo proteção.
Reggae Total – Você tem quase 50 anos, como decidiu por volta dos 40 e poucos anos, fazendo Reggae e já com um horário em uma das maiores rádios do Maranhão ir à universidade e voltar a estudar?
Jorge Black – Hoje é fundamental comunicar, saber falar, conversar, pedir e oferecer, desde que fiz o curso com Robson, não saiu da minha cabeça que quanto mais me aperfeiçoasse, melhor profissional eu seria, vi que era o momento, as músicas falam de amor, de coisas boas, de Deus, fico feliz quando alguém me diz, “Black, eu comecei a namorar quando tu estavas tocando tal música”, e queira ou não, isso faz todo esforço valer a pena.
Reggae Total – Mas a publicidade surge na sua vida só e exclusivamente para ajudá-lo na Comunicação e com o Reggae, ou será também uma profissão?
Jorge Black – Vai ser um projeto de vida, eu gosto, passei a vida comunicando, não somente nas rádios, mas também já trabalhei no comércio. Trabalhei muito para as pessoas, hoje eu trabalho pra mim.
Reggae Total – Você falou que atualmente está vivendo exclusivamente do Reggae. Com o que você trabalhou antes?
Jorge Black – Fui dono de bar, trabalhei nas lojas Radical, Golfinho, Top Sun, e sempre toquei.
Reggae Total – O Bar Túnel do Tempo tem um programa na TV, fale da sua participação neste em outros programas de TV:
Jorge Black – Há uns atrás, tinha um programa de 15 minutos da fm Natty Nayfson, em que eu era o produtor na aspecto de fazer merchandinsing, entretenimento e informação, depois tive a oportunidade de apresentar um programa de meia hora (Menina Veneno), e percebi que a TV é uma mídia mais imediata, e é essa a intenção do Túnel do Tempo na TV, abranger mais e marcar as pessoas, um dos quadros eu gravo em casa (o Fundo do Baú), onde pego discos e os coloco pra tocar e conto a história daquela música.
Reggae Total – O Túnel do Tempo também produziu um DVD bastante comercializado, comente um pouco dessa experiência:
Jorge Black – Tá com dois anos que gravamos, e fico feliz que até hoje as pessoas me cobram a reedição, porque houveram momentos de diversão, pode até ter faltado algumas técnicas, mas pra o momento do Túnel, foi bom, porque as pessoas que nunca foram puderam assistir, e como foi feito ao vivo, fiquei à vontade, falei o que eu quis, traduzi trechos de músicas que já tinham saído do cenário e que voltaram. Quando é audio e vídeo as pessoas tem um interesse maior.
Reggae Total – Você estava participando de um projeto na quarta-feira, no Bar Contraponto, na Praia Grande, com a também DJ de Reggae Nega Glícia, e que de repente e precipitadamente foi interrompido logo no início, porque?
Jorge Black – Esse projeto que a gente tava desenvolvendo foi interrompido, visto que a casa não tem característica de Reggae, o Reviver já foi muito bom nesse sentido, eu fiz parte disso porque tive um bar lá, mas atualmente requer muito mais esforço. Quando fui convidado a fazer o projeto, fiz flys, comerciais, levei a DJ Nega Glícia, que hoje além de viver do Reggae tem uma certa popularidade, então o cachê dela é um cachê caro; Convidei também a banda Barba Branca e outras de São Luís, e que também não cobram cachê barato, e sabemos que a quarta-feira no Reggae em São Luís não predomina, e justamente quando estávamos na 5ª edição, o contraponto começou a fazer Reggae também na sexta, que é um dia mais comercial, então concluí que não tinha como manter a quarta, pois toda a mídia que eu fizesse refletiria na sextas, eu não tinha como investir no marketing, no visual e na mídia, se não teria um publico pra pagar o que estava investindo lá, pois a casa não tem condição de ter dois dias de Reggae.
Reggae Total – Você citou um bar do qual foi o proprietário, creio que esteja falando do Freedom Bar. Como foi essa experiencia e por quantos anos ele funcionou?
Jorge Black – O Freedom Bar funcionou de 1997 a 2001,o projeto começou no cohatrac e depois funcionou tambem ao lado de onde atualmente se localiza o Contraponto, lá eu colocava banda e não cobrava, o que foi um desafio, quebrei um paradigma, já que na época só se colocava banda se tivesse cachê, na epoca o cantor Paulo the lions , falei com ele que tinha um bar e que teriam programas e emissoras divulgando, e que seria bom pra banda e pra mim, e então nos juntamos e realizamos várias apresentações.
Reggae Total – Antes de ser DJ de Reggae, você foi DJ de Balanço, fale sobre essa transição considerando certos comentários críticos sobre pessoas que passam um tempo tocando outras coisas, estilos musicais e que de repente decidem entrar no Reggae por verem neste um mercado. É esse o seu caso? E o Balanço ficou pra trás?
Jorge Black – O Balanço foi num momento em que eu não tinha acesso a mídia e hoje as pessoas ficam curiosas. Mas não foi essa a situação, eu sempre gostei da música, e se pudesse teria um horário cultural pra falar, explicar e conversar com as pessoas, hoje eu me divirto trabalhando, pois se estou no “Reggae Night”, estou proporcionando a diversão das pessoas, fazendo merchandising também, mas principalmente estou entretendo as pessoas. O balanço não predominou, porque se observar, São Luís é conhecida como a Jamaica brasileira, mas será que seria a Capital do Miame, do dance, do forró, do melody, não seria porque são aproximadamente onze programas comerciais no cenário Reggae, então se somos a Jamaica brasileira, é porque a gente paga, seria bom que todos esses horários de Reggae nas rádios fossem liberados, mas a realidade é que temos que matar um leão por dia.
Reggae Total – Mas isso não transforma o Reggae num mau mercado?
Jorge Black – Não eu não acho, mas hoje quem tem uma radiola e paga um programa, e paga uma equipe, que o programa é comercial, é uma troca, ele tá lá dizendo que a radiola dele é a melhor, que ele tem o melhor DJ, que vai fazer a melhor festa e que tem as músicas mais bonitas, pra que o público se interesse e vá consumir aquele produto.
Reggae Total – Você foi candidato a vereador pelo PSL (Partido Social Liberal). Como foi essa experiência e porque decidiu se candidatar?
Jorge Black – Surguiu a tambem através de uma parceria com o Adão do GDAM, que tem uma ONG,o Grupo de de Dança Afro Malungos e o Bloco do reggae Gdam, e nós tivemos várias dificuldades, então tem a questão de manter a casa, os cursos, e sempre que conversávamos com algum político ele conseguia apaziguar, ou resolver, ou amenizar a nossa situação, e houve essa pretensão política, foi essa nossa visão, mas hoje na política tem que ter dinheiro, se não tiver fica muito difícil. A minha campanha foi linda, eu sou negão, minha família sempre lutou pra vencer e conseguir passar pelas exigências, então só o fato de me candidatar e ser acreditado por um partido já valeu como experiência.
Reggae Total – E ainda pretende se candidatar?
Jorge Black – Não, acho que não. A experiência foi maravilhosa, mas como disse é muito complicado, política é complicada sabe, você é visto com outros olhos, as pessoas se perguntam se vai ser mais um, por mais que você tenha intenções boas, os que não conhecem a sua essência lá no fundo irão se questionar.
Reggae Total – Há pouco você se auto definiu como negão. Você já sofreu muito preconceito pelo envolvimento com o Movimento Reggae, pela cor da pele, pela história e pelos bairros em que já morou?
Jorge Black – Não, nunca assimilei essa coisa de preconceito, sempre procurei viver tranquilo, se alguém não gosta de negros, não vou dar acesso, não vou forçar, nem vou brigar, mas também não vou me aproximar, mas caso se aproximar de mim eu irei tratar muito bem, e se me tratar bem, vou aonde quiser porque estará me dando uma oportunidade. Então sempre foi assim, nunca me joguei, faço o meu trabalho, gosto das minhas coisas, tenho qualidades como qualquer um tem, com as mulheres que me relacionei foi assim, se a mãe ou o pai não gostavam de mim, eu me afastava, ou depois a mãe já era muito mais eu do que um próximo namorado que tinha a pele mais clara do que eu, então eu sempre procurei vencer as minhas barreiras, eu sempre lutei.
Reggae Total – O Reggae te ajudou?
Jorge Black – Ajuda. O conhecimento, o repertório, a consciência da cultura, muitas pessoas pensam que se é regueiro é doidão, e hoje nem beber eu não bebo.
Reggae Total – E quais os seus projetos em relação ao Reggae?
Jorge Black – Eu sempre estou almejando algo, sempre querendo criar algo. Penso em chamar alguém pra escrevermos um livro sobre Reggae exaltando São Luís,Bruno Azevedo que é marido da escritora Karla Freire, autora do livro “Onde o Reggae é a lei”, veio aqui e nós conversamos e eu tambem contribuir com a concepção de produção do livro cedi algumas fotos inclusive eu falei com ele que o livro dela precisa ser continuado, então quem sabe esse não seria uma continuação do livro dela. Também sonho em montar um DVD do Reggae de São Luís, com momentos do Túnel do Tempo de outros bares e points de reggae e até do Bumba Boi. Outro projeto é que São Luís pela realidade em que a gente vive merece ter uma Rádio Reggae, começaria comunitária e depois se tornaria comercial.
Reggae Total – Se você tivesse que fazer um elogio e uma crítica ao atual cenário Reggae de São Luís, quais seriam?
Jorge Black – O elogio seria a questão da perseverança, de lutar pra se manter e conseguir se manter, fico feliz por isso, das pessoas lutarem, sei a minha luta diária pra me manter, os donos de radiolas sabem as suas, cada um sabe. E a crítica é a questão de se reeducar, de ver a sua comunicação, o seu repertório, será que você está comunicando bem, será que o que você está dizendo naquele momento é o momento certo e é certo o que você esta falando.
Reggae Total – Agora pra encerrar com chave de ouro, e não perder o costume, deixe uma mensagem a todos os amigos do Reggae Total.
Jorge Black – Os amigos do Reggae Total são pessoas com as quais me identifiquei, sempre falo sobre a equipe desse site, porque vejo um trabalho em que as pessoas conseguem interagir, é uma mídia visual que me fascina, então eu parabenizo muito vocês. A gente já teve a oportunidade de realizar festas juntos, e eu fico feliz de ter credibilidade com a equipe e por confiarem no meu trabalho, fazemos uma troca recíproca de amizade.