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REGGAE TOTAL ENTREVISTA… DREAD SANDRO

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Saiba tudo sobre o polêmico, porém não menos coerente, Dread Sandro, um dos desbravadores da Jamaica e dos responsáveis por abastecer o Movimento Reggae no Maranhão desde uma época em que a internet não era uma opção. Descubra o que faz dele, aos 47 anos e com 34 anos de história no Reggae, alguém que merece ser ouvido e respeitado!

Por Tiara Souza

O reggae não é feito só de comércio, mas também com paixão.”

Dread Sandro

Reggae Total – Como você se interessou por reggae?

Dread Sandro – Me interessei por reggae com 13 anos de idade, comecei a colecionar com a ajuda financeira do meu pai, aos 15 anos já comecei a me apaixonar pela Jamaica, e prometi a mim mesmo que um dia iria até lá, então tempos depois terminei os estudos, arrumei um emprego e fiz a minha primeira viagem a Jamaica, que foi em 91, há 23 anos atrás.

Reggae Total – Como você passou a ser conhecido como Dread Sandro pelo público regueiro de São Luís?

Dread Sandro – Eu já era conhecido como colecionador, já comprava meus discos na mão do Enéas, que sempre morou em Londres, ele trazia e eu comprava, então comecei a participar de programas com o Fauzi Beydoun na rádio, e ele me olhava e dizia, rapaz tu és o verdadeiro Dread, porque é terrível, temido pelos Djs, e quando você chega arrasa, não tem pra ninguém, e foi assim que Fauzy me batizou de Dread Sandro, (risos).

Reggae Total – Há algumas fotos nas Redes Sociais das suas viagens, lá pude observar que você foi até a Jamaica pela primeira vez com o Natty Nayfson, conte-nos um pouco dessa e de outras viagens, do proposito das mesmas, e dos artistas que encontraram por lá:

Dread Sandro – Exibi algumas fotos pelo Facebook, o Nayfson, que viajou comigo a primeira vez, além de ser meu companheiro na viagem, foi também meu interprete, já que eu não entendia nada de inglês, então nós tivemos lá nosso primeiro contato com Gregory Isaacs, Eric Donaldson, entre outros. Ainda viajei uns três a quatro anos junto com outras pessoas, depois passei a viajar só, pois comecei a descobrir outros colecionadores lá, eu não queria que as pessoas soubessem que eu estaria visitando outros colecionadores, já que o reggae se tornou muito concorrido e disputado naquela época.

Reggae Total – Você é considerado um dos grandes abastecedores do reggae no Maranhão, alguém que trouxe diversas músicas que fizeram e fazem sucesso até hoje, sabemos que isso se deve principalmente as inúmeras viagens à procura de discos, músicas. Quantas viagens você realizou e para quais lugares?

Dread Sandro – Viajei um certo tempo a Kingston, depois em 2008 fiz a primeira viagem a Londres, ao total são cinco viagens para a Inglaterra e vinte e cinco para a Jamaica, pois como passagem, hospedagem e o preço dos discos era mais caro em Londres, eu preferia ir a Kingston, já que a maioria das minhas viagens foi por conta própria, que fiz muita amizade lá, e se tornou melhor pra comprar discos. Todas as vezes que eu chegava a Jamaica, os conhecidos já sabiam onde me levar, apesar de ser muito mais arriscado do que a Inglaterra, compensava.

Reggae Total – Arriscado? Em que sentido?

Dread Sandro – Eu entrava nas favelas, tinha um lugar lá que era o melhor pra comprar discos, mas tenho poucas fotos nelas justamente porque se entrasse com câmera fotográfica lá eles tomavam, os próprios jamaicanos diziam que não era pra entrar lá, então fiz amizade com um jamaicano que era muito conhecido por lá e ele me acompanhava dentro da favela, parecia mesmo um segurança, só pelo tamanho dele(risos). Depois fiz amizade com os moradores da favela e passei a ir só, eles me ajudavam, e eu podia entrar lá na hora que eu quisesse, só tinha que sair de lá antes das cinco e trinta porque senão não haveria um taxista pra me levar até o hotel, pois devido a violência nenhum deles se atreviam a entrar na favela.

Reggae Total – Você falou que a maioria das suas viagens foi por conta própria, suponho então que outras foram pra donos de radiola. Conte-nos sobre essas viagens encomendadas:

Dread Sandro – Eles pagam passagem, hospedagem e o cachê, eu conheço os endereços, o reggae que vai se adaptar aqui e compro os discos exclusivamente para quem me contratou.

Reggae Total – Vi algumas fotos suas com Gregory Isaac datado pouco antes daquele primeiro show dele em São Luís, diga-se de passagem, não muito bem sucedido, com direito a barragem em Aeroporto, escolta de Polícia Federal e playback. Você estava envolvido nessa contratação? E o que de fato ocorreu na época?

Dread Sandro – Uma das vezes em que estivemos na Jamaica nós fizemos um contrato com o Gregory Isaac pra trazê-lo a São Luís, nesse dia, assinei também com o Nayfson. Ao chegarmos aqui, Nayfson fechou com o Hotel Ponta D’areia e o Luzico e perguntou se eu queria levar adiante, foi então que eu disse que não, pois não tinha condições e se houvesse algum problema não teria como arcar e resolver a situação, então saí, e deu problema. Gregory e a banda foram barrados no Aeroporto e tiveram que retornar a Jamaica, então Nayfson e Luzico fretaram um jatinho de Manaus pra Kingston e foram buscar o Gregory na Jamaica, mas só veio ele e a esposa, não deu pra trazer a banda, ele chegou ao Nhozinho Santos, local do show, às duas da manhã só pra fazer um playback. O problema se agravou ainda mais porque devido ao prejuízo, eles contataram o Fernando Sarney e a Antártica que foi quem patrocinou o show na época e acertaram que se Gregory fizesse um show de graça na Ponta D’areia eles cobririam o prejuízo. Mas parece que não avisaram Gregory, e ele pegou o primeiro táxi na porta do Hotel e foi ao Aeroporto, então o Hotel contatou Nayfson, que contatou o Aeroporto, e lá Gregory foi detido pela Polícia Federal, o forçaram a ficar aqui e fazer o show de graça e contra a vontade dele.

Reggae Total – E quanto a outros grandes nomes do reggae, que estiveram por aqui, você teve influencia em trazê-los pra cá, ou os contatos lá foram só para comprar discos?

Dread Sandro – Participei da contratação de Donna Marie, eu estava na Inglaterra e a pedido do Pinto da Itamaraty conversei com o empresário dela, assinei o contrato e conversei com o Pinto, que disse que levaria o dinheiro pessoalmente a ela, quando ele foi levar o dinheiro coincidiu de eu estar na Inglaterra novamente. Além desse, participei também do show de Eric Donaldson, no último San Folia que houve aqui, então eu tive influencias nesses shows, mas sempre indiretamente, meu foco principal lá fora era comprar e revender, já vendi na faixa de uns cinco mil discos.

Reggae Total – Visto que antes não havia essa facilidade em conseguir música, podemos dizer que com a venda de tantos discos e uma história de tantos anos você é um dos responsáveis por tornar São Luís conhecida como a Ilha do Reggae, a Jamaica Brasileira. Você considera que é isso mesmo, que ajudou a abastecer e é parte fundamental dessa história?

Dread Sandro – Da década de 90 pra cá ocorreu a maior expansão do reggae, o reggae já existia, mas eu e Júnior Black fomos os causadores e desbravadores da Jamaica em termo de trazer musica pra cá, a gente se orgulha em dizer isso. Fomos os maiores importadores de discos, tanto que quando um estava na Jamaica o outro não ia, pois não compensava em questão de vinil, íamos acabar comprando a mesma coisa. Hoje a internet abriu as portas para todo mundo, diferente daquela época.

Reggae Total – E essa facilidade em conseguir música hoje através da internet. Isso é bom?

Dread Sandro – Tem suas vantagens e suas desvantagens, hoje todo mundo quer ser Dj, colecionador, menosprezam os mais experientes. Uma vez numa festa, eu tocando junto com um rapaz lá, ele perguntou se eu gostaria de  começar tocando, daí eu fale se quiser começar, começa, se quiser eu começo, aí ele disse, então eu começo, antes da festa eu tinha ido a Mirante, elogiado a sequencia dele, mas aí ele começou a tocar e disse que eu tinha ficado com medo de começar a festa, pegou mal pra caramba pra ele e eu fiquei muito chateado com o desrespeito, então esperei a minha vez de tocar e disse: Estou aqui pra tocar, não pra disputar contigo, até porque disputa eu não perdi nenhuma e você não seria o primeiro pra quem eu iria perder, eu só digo uma coisa o que você rodou, dá graças a Deus que eu viajei a Jamaica, porque tudo fui eu quem trouxe pra cá, tudo o que você tocou eu tenho na minha casa, agora o que eu vou tocar, você não tem nenhuma.

Reggae Total – Falta humildade no reggae?

Dread Sandro – Essa galera antiga todo mundo ali é até humilde, essa galera nova, eles começam a exibir fotos de disco na internet, esse só eu que tenho, foi caríssimo. Compra os discos e nem sabem ao certo o que há ali, compra um horror de discos e não compram nada, aí quando não vendem vão exibir as músicas em algumas festas e ninguém dança.

Reggae Total – Conta um pouco dos lugares em que você já tocou nesses 34 anos de reggae?

Dread Sandro – Já toquei em muitos lugares que atualmente nem são mais clubes de reggae, no Coroadinho, onde era a Fazenda e antes era um clube de reggae, pra Fauzi Beydoun e a Tribo de Jah, no João de Deus, na Toca da praia, no Tok de amor, no Praia Reggae, na Ponta D’areia, acho que em 95% dos clubes de São Luís, já toquei.

Reggae Total – E atualmente, onde podemos ouvir a sua sequencia?

Dread Sandro – Hoje em dia faço sequencias quando me chamam, já fui ao interior, Rio de Janeiro, São Paulo, aqui em São Luís no Espaço Aberto, Túnel do Tempo, enfim, me ligam, perguntam se dá pra ir e levar a sequencia, digo quanto cobro e se acertamos, eu vou.

Reggae Total – Tem muita gente no meio do reggae que se orgulha de dizer que vive só de reggae, e você só trabalha com reggae?

Dread Sandro – Não. Sou mecânico, eletrotécnico, trabalhei na Alumar, com Pinto da Itamaraty, passei sete anos usando o reggae como um meio de sustento, hoje uso o reggae como hobbie.

Reggae Total – Como parte da geração que abasteceu o movimento reggae nos anos 90, e que até hoje ainda vem fazendo um trabalho apesar dos pesares, o que tem a dizer ais djs e colecionadores mais jovens? No meio dessa turma vai surgir gente capaz de continuar abastecendo o movimento reggae aqui?

Dread Sandro – Exibi algumas fotos na internet, inclusive em favelas, pra que os mas jovens vejam que sim, ganhamos muito dinheiro, mas não foi e não é fácil, quando alguém vem me perguntar sobre essa minha trajetória no reggae eu tenho imenso prazer em responder, em dizer que eles sejam mais humildes, pois se tem mais a ganhar. Quando alguém vem falar comigo em festa eu posso estar cansado ou num mal dia, mas dou atenção com todo o prazer, pois esse povo que tá lá curtindo as pedras que a gente toca é quem nos paga, não menosprezem. E sim, acredito que vai ter uma meia dúzia aí que vai se adaptar.

Reggae Total – Sabemos que aqui em São Luís nos últimos anos os clubes perderam espaço para os bares. E os bares se interessam pela antiga geração, em questão de maioria, ou só querem saber das novidades e modismos e não estão dando o devido valor a vocês?

Dread Sandro – De certa forma não estão dando tanto valor, são poucos, e a e a maioria dos donos de bares não querem saber de história ou sequencia, mas sim de lucro, querem vender a cerveja deles e colocar o público pra dentro. Muitos acham caro o que nós cobramos pra tocar e valorizam quem tá na mídia, que tem programa, aí os Djs mais antigos só são chamados quando o pessoal começa a reclamar da sequencia e a dizer que todo fim de semana é a mesma música, trouxemos mais de 5 mil músicas pra cá e os novos Djs querem tocar as mesmas 50 todo fim de semana, por insegurança ou medo de criticas, ou de ser desaprovado pelo dono do bar.

Reggae Total – O reggae já foi muito marginalizado, visto como coisa pra pobre, pra marginal, pra drogado, pra quem não tem oportunidade na vida. Mas pra você que vem do reggae e participa desse cenário, reggae é pra quem? Socialmente e culturalmente falando.

Dread Sandro – Reggae é pra todo mundo. É pra mostrar para as pessoas que é um ritmo aconchegante e muito bom de se dançar, e que frequentem, a tendência é crescer, mesmo estando um tanto estacionado em relação a compra de discos.

Reggae Total – Nós já falamos sobre o que você fez pelo reggae, mas e o que o reggae fez por você?

Dread Sandro – O reggae me deu poucas oportunidades (pensativo).

Reggae Total – Você já venceu nove dos nove concursos como colecionador dos quais participou, o que lhe rendeu a fama de “cara que ganha todas”. Agora me diz, por que é que o Dread Sandro ganha todas?

Dread Sandro – Ah… (risos) Acho que são as músicas que eu trago. Eu não entro sabendo que vou ganhar, já houveram uns dois ou três concursos que eu sabia que ia ganhar, pois o pessoal que estava concorrendo comigo não iria ter as músicas que eu tenho. Mas sempre respeitei meus adversários, quantas vezes participei de concurso, ganhei e no final fui tomar cerveja com eles no balcão do bar. Isso é importante, educativo ao publico, ao adversário, é respeito.

Reggae Total – Agora pra encerrar com chave de ouro, e não perder o costume, deixe uma mensagem a todos os amigos do Reggae Total.

Dread Sandro – O pessoal do Reggae Total são meus amigos, o site tende mais a crescer fazendo reggae com quem entende de reggae e dando oportunidade a essa galera nova que está surgindo aí. Que dê mesmo oportunidade a eles, mostrar que o reggae não é feito só de comércio, mas também com paixão. O site tá sempre inovando, mostrando que o reggae é bom de ser ouvido, todo mundo tá aprovando, eu aprovo e assino embaixo.

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