15 mar 2014

Entrevista com Fellipe Souljah. O cantor fala sobre o cenário do reggae na capital e disponibiliza nova canção
por Letícia Carvalho
– Quando surgiu seu interesse pelo reggae?
Fellipe Souljah – Quando eu tinha 18 anos, recebi um convite pra entrar numa banda e a proposta era interpretar músicas de Bob Marley. Essa banda durou pouco tempo e se tornou no embrião do grupo Brasucas, que participo até hoje. Na época, o mp3 não era muito acessível e o Youtube ainda era um sonho distante, então a gente tinha uma grande dificuldade pra conseguir discos das bandas que gostávamos. Mas tive amigos que me ajudaram muito a aumentar meu conhecimento sobre o reggae. Eles tinham muitos discos e conheciam muita coisa: Coelho, Bruce Irie e Nego Moita. Tinha também um programa na rádio cultura chamado “Radiola Reggae”, apresentado pelo Helinho Franco (também percussionista da banda Tijolada Reggae) e a maioria das fitas cassete que a gente tinha eram de músicas que tocavam no programa. Hoje posso dizer que entre as minhas principais influências no reggae estão Black Uhuru, The Wailers, Roots Radics e Burning Spear.
– Como você avalia o cenário do reggae na capital?
Fellipe – Brasília sempre foi uma referência musical no país. Uma vez um amigo me disse que, talvez pelo fato de não termos uma praia, o jovem brasiliense acaba encontrando na música – ou no esporte – uma forma de canalizar as suas energias. Ainda assim, a única banda de reggae brasiliense que conseguiu reconhecimento nacional foi o Natiruts e isso não se deve à falta de qualidade das outras bandas. Temos, na cidade, uma deficiência na área de produção executiva, o que faz com que os artistas tentem (muitas vezes sem sucesso) se tornar seus próprios managers. O resultado: bandas com um excelente trabalho musical, mas sem projeção no mercado nacional. Rio e São Paulo continuam a ser os grandes, porém, na minha opinião, Brasília ainda se destaca pela qualidade musical.
– Como foi pra você a experiência de trabalhar no exterior com músicos de grande prestigio no mundo inteiro?
Fellipe – Quando me mudei pra Inglaterra, queria encontrar um cara chamado Dennis Bovel. Além de um excelente baixista, ele se tornou um grande produtor musical, sendo responsável pela mixagem do primeiro disco da banda O Rappa. Acabei não encontrando o Dennis, mas em Brixton, um bairro londrino famoso por sua atmosfera jamaicana, acabei esbarrando com Michael Rose num baile do Aba Shanti Sound System. Michael Rose era o vocalista do Black Uhuru e foi o primeiro vencedor de um Grammy na categoria reggae. Ele me apresentou à Jimi Lyons, produtor de uma backing band que trabalhava com diversos artistas que vinham da Jamaica. Foi nessa banda, chamada de Giddeon Family, que tive a oportunidade de fazer minha primeira turnê internacional, tocando na França, Alemanha, Espanha e Inglaterra.
– Como surgiu a ideia de fazer um trabalho solo?
Fellipe – Começou quando voltei da Inglaterra. Cantar de forma improvisada sobre uma base instrumental era muito comum na Jamaica e isso se popularizou tanto que influenciou também os rappers americanos. Em Brasília, muita gente já fazia esse tipo de apresentação na cena do rap. A exemplo do Gog, Japão e do DJ Jamaica. Mas no reggae isso ainda não acontecia. Essas mesmas bases instrumentais, que são chamadas de beat no rap, são conhecidas como riddim no reggae. Voltei com vários riddims na mala e comecei a cantar na abertura de alguns shows.
– Você está lançando uma nova música, “A Luta Continua”. Teremos outras novidades para este ano?
Fellipe – Lancei, recentemente, um single que tem participação de Amlak Tafari, baixista da banda britânica Steel Pulse. A música surgiu de uma ideia que tive de escrever uma carta para mim mesmo, falando sobre a importância de continuar lutando por um sonho. Está previsto para março o lançamento do meu primeiro EP solo, chamado #alutacontinua e que conta com a participação de músicos da cidade, como Marcelo Pahl e Estevão Bomba Campos. Além disso, banda Brasucas pretende gravar um DVD ainda no primeiro semestre de 2014.
Fonte: http://vejabrasil.abril.com.br/brasilia/materia/reggae-em-cena-1764
Ouça a música A Luta Continua